O compartilhamento das práticas de trabalho em um espaço de discussão: o caso de uma empresa do setor elétrico
Vítor G. C. Figueiredo Raoni Rocha Simões Ana Karla Baptista
Resumo
As práticas construídas pelos eletricistas de Linha Viva na gestão das variabilidades diárias de campo nem sempre são contempladas pela gestão. As configurações coletivas construídas, as competências desenvolvidas, as estratégias adotadas e o saber tácito mobilizado se perpetuam entre as equipes no campo, porém, não encontram um espaço de disseminação em outros níveis da empresa. Diante disso, evidencia-se uma enorme lacuna entre a prescrição e a execução real da atividade, pois, os operadores, ao desenvolverem competências e estratégias para gerirem as dificuldades e situações de aparente normalidade no campo, se silenciam para a gestão e não revelam o real. Por outro lado, a gestão cria procedimentos e normas que cada vez mais se distanciam do real de campo e não contemplam os saberes advindos da experiência dos atores sociais em situações reais. Diante desse cenário, esse artigo, por meio de uma pesquisa exploratória de campo, apresenta as variabilidades e situações de normalidade geridas pelos operadores. Além disso, como uma forma de atenuar esse distanciamento entre o prescrito e o real, são apresentadas situações de discussão da atividade em espaços de retorno de experiência.
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