Revista Ação Ergonômica
https://revistaacaoergonomica.org/article/doi/10.4322/rae.v16e202212
Revista Ação Ergonômica
Artigo de Pesquisa

A COLHEITA MANUAL DE TOMATE: ENTRE A PRESCRIÇÃO E OS SABERES TÁCITOS

THE MANUAL HARVEST OF TOMATOES: BETWEEN PRESCRIPTION AND TACIT KNOWLEDGE

RECOLECCIÓN MANUAL DE TOMATE: ENTRE LA PRESCRIPCIÓN Y EL CONOCIMIENTO TÉCNICO

Fabiana Raulino da Silva, Andréa Regina Martins Fontes, Uiara Bandineli Montedo, Marina Helena Pereira Vieira, Renato Luvizoto Rodrigues de Souza

Downloads: 3
Views: 981

Resumo

A competência dos trabalhadores que realizam a colheita manual do tomate está intrinsecamente relacionada à cooperação e aos conhecimentos adquiridos na prática. O objetivo desse artigo é analisar a contribuição dos saberes tácitos dos colhedores de tomate na elaboração de estratégias de escolha dos frutos a serem colhidos. Baseado nos pressupostos da Ergonomia da Atividade foi conduzido um estudo de caso em três propriedades agrícolas no interior do estado de São Paulo, Brasil, utilizando como ferramentas as observações livres, entrevistas com roteiro semiestruturado e análise dos discursos dos trabalhadores da colheita manual do tomate. Os resultados mostram que os trabalhadores constroem um mapa mental como uma referência do que é um fruto adequado para ser colhido, formado a partir de diversas informações multissensoriais. O trabalhador classifica e selecione tacitamente o fruto de acordo com a qualidade prescrita em protocolos, mesmo sem terem recebido um treinamento formal. Portanto, embora tido como um trabalho braçal, esse estudo mostra a complexidade dos saberes mobilizados na colheita e a importância de se entender esse processo para a compreensão do trabalho real.

Palavras-chave

Ergonomia da Atividade, Cultivo Agrícola, Conhecimento Tácito, Tomate.

Abstract

The competence of workers engaged in manual tomato harvesting is intrinsically related to the cooperation and the knowledge acquired in practice. The aim of this paper is to analyze the contribution of the tacit knowledges of workers involved in tomato harvesting in the elaboration of strategies that guide the choice of the fruits to be harvested. Based on the Activity-centered. Ergonomics concepts, a case study was conducted on three farms in the interior of the state of São Paulo, Brazil, using as tools: free observations, interview with semi-structured script and analysis to the verbalizations of manual tomato harvest workers. The results show that the workers construct a mental map as a reference of what is a suitable fruit to be harvested, formed from several multisensory information. The worker classifies and tacitly selects the fruit according to the quality prescribed in protocols, even without having received formal training. Therefore, although considered as a legwork, this study shows the complexity of the knowledge mobilized in the harvest and the importance of understanding this process to better understand the real work. 

Translated version DOI: https://doi.org/10.4322/rae.v16e202212.en

Keywords

Activity-centered Ergonomics, Agriculture Cultive, Tacit Knowledge, Tomato.

Resumen

La competencia de los trabajadores que realizan la recolección manual de tomate está intrínsecamente relacionada con la cooperación y los conocimientos adquiridos en la práctica. El objetivo de este artículo es analizar la contribución del conocimiento tácito de los recolectores de tomate en la elaboración de estrategias para la elección de los frutos a cosechar. A partir de los supuestos de la Ergonomía de la Actividad, se realizó un estudio de caso en tres fincas del interior del estado de São Paulo, Brasil, utilizando como herramientas observaciones libres, entrevistas con un guión semiestructurado y análisis de los discursos de los trabajadores de la cosecha manual de tomate. Los resultados muestran que los trabajadores construyen un mapa mental como referencia de cuál es un fruto adecuado para ser cosechado, formado a partir de diversa información multisensorial. El trabajador clasifica y selecciona tácitamente la fruta de acuerdo con la calidad prescrita en los protocolos, incluso sin haber recibido capacitación formal. Por lo tanto, a pesar de ser considerado como un trabajo manual, este estudio muestra la complejidad de los conocimientos movilizados en la cosecha y la importancia de comprender este proceso para comprender el trabajo real.

DOI de la versión traducida: https://doi.org/10.4322/rae.v16e202212.es

Palabras clave

Ergonomía de la Actividad, Cultivo Agropecuario, Conocimiento Tácito, Tomate.

Referências

Abrahão, R. F. (2003). A contribuição da ergonomia para o trabalho agrícola. In Workshop Tomate na UNICAMP: Perspectivas e Pesquisas. Campinas: FEAGRI/UNICAMP.

Binotto, E., Nakayama, M. K., & Siqueira, E. S. (2013). A criação de conhecimento para a gestão de propriedades rurais no Brasil e na Austrália. Revista de Economia e Sociologia Rural, 51(4), 681–698. https://doi.org/10.1590/S0103-20032013000400004

Bonfatti, R., Motta, D., & Vidal, M. C. (2003). Os limites da análise ergonômica do trabalho centrada na identificação de riscos biomecânicos. Ação Ergonômica, 1(4), 63-77. Recuperado de http://www.abergo.org.br/revista/index.php/ae/article/view/36/33

Braunbeck, O. A., & Oliveira, J. T. A. (2006). Colheita de cana-de-açúcar com auxílio mecânico. Engenharia Agrícola, 26(1), 300–308. https://doi.org/10.1590/S0100-69162006000100032

Camargo Filho, W. P., Donadelli, A., Sueyoshi, M. L. S., & De Camargo, A. M. M. P. (1994). Evolução da produção de tomate no Brasil. Agricultura em São Paulo, 41(1), 41–69. Recuperado de http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/ASP4-0194.pdf

Cardoso, S. C., Soares, A. C. F., Brito, A. S., Carvalho, L. A., Peixoto, C. C., Pereira, M. E. C., & Goes, C. (2006). Qualidade de frutos de tomateiro com e sem enxertia. Bragantia, 65(2), 269–274. https://doi.org/10.1590/S0006-87052006000200008

Chatigny, C. (2000). The conditions for apprenticeship in a work situation: margins of maneuver and resources to be changed by the individual, the group and the organization. Proceedings of the Human Factors and Ergonomics Society Annual Meeting, 44(12), 2-705-2-708. https://doi.org/10.1177/154193120004401272

Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP), Programa Brasileiro para Modernização da Horticultura, Centro de Qualidade em Horticultura. (2000). Normas de Classificação do Tomate. São Paulo: CEAGESP. Recuperado de http://www.ceagesp.gov.br/wp-content/uploads/2015/07/tomate.pdf

Daniellou, F. (2004). Questões epistemológicas acerca da Ergonomia. In F. Daniellou (Coord.), A ergonomia em Busca de seus princípios: debates epistemológicos (pp. 1-18). São Paulo: Edgard Blücher.

Daniellou, F., & Béguin, P. (2007). Metodologia da ação ergonômica. In P. Falzon (Ed.), Ergonomia (pp. 281-301). São Paulo: Edgard Blücher.

De Biase, L. (2007). A condição feminina na agricultura e a viabilidade da agroecologia. Revista Agrária, São Paulo, (7), 4-36. https://doi.org/10.11606/issn.1808-1150.v0i7p4-36

Duarte Duarte, J. (2003). Ambientes de Aprendizaje: Una aproximación conceptual. Revista Iberoamericana De Educación, 33(1), 1-18. https://doi.org/10.35362/rie3312961

Falzon, P. (2007). Ergonomia (1st ed.). São Paulo: Edgard Blücher.

Fathallah, F. A. (2010). Musculoskeletal disorders in labor-intensive agriculture. Applied Ergonomics, 41(6), 738–743. https://doi.org/10.1016/j.apergo.2010.03.003

Faria, F. F., & Oliveira, J. T. A. (2005). Matriz de coeficientes técnicos da cultura do tomate de mesa: base para cálculo dos custos de produção e colheita. In Anais do XIII Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp. Campinas: FEAGRI/UNICAMP.

Ferreira, S. M. R., De Freitas, R. J. S., & Lazzari, E. N. (2004). Padrão de identidade e qualidade do tomate (Lycopersicon esculentum Mill.) de mesa. Ciência Rural, 34(1), 329–335. https://doi.org/10.1590/S0103-84782004000100054

Ferreira, M. C. (2000). Atividade, categoria central na conceituação de trabalho em ergonomia. Revista Alethéia, 1(11), 71–82. Recuperado de http://www.ergopublic.com.br/arquivos/1252856337.07-arquivo.PDF

Frank, A. L., McKnight, R., Kirkhorn, S. R., & Gunderson, P. (2004). Issues of Agricultural Safety and Health. Annual Review of Public Health, 25, 225-245. https://doi.org/10.1146/annurev.publhealth.25.101802.123007

Geoffrey, S. K., Hillary, N. K., Antony, K. M., Mariam, M., & Mary, M. C. (2014). Challenges and Strategies to Improve Tomato Competitiveness along the Tomato Value Chain in Kenya. International Journal of Business and Management, 9(9), 205–212. https://doi.org/10.5539/ijbm.v9n9p205

Gregolis, T. B. L., Pinto, W. J., & Peres, F. (2012). Percepção de riscos do uso de agrotóxicos por trabalhadores da agricultura familiar do município de Rio Branco, AC. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 37(125), 99–13. https://doi.org/10.1590/S0303-76572012000100013

Guérin, F., Laville, A., Daniellou, F., Duraffourg, J., & Kerguelen, A. (2001). Compreender o trabalho para transformá-lo: a prática da Ergonomia. São Paulo: Edgard Blücher.

Guimarães, M. C. (2002). O clima organizacional na empresa rural: um estudo de caso na Fazenda Pontal Unaí/MG (Dissertação de mestrado). Faculdade Cenecista de Varginha, Varginha.

Iida, I., & Buarque, L. (2016). Ergonomia: projeto e produção (3a ed. revista). São Paulo: Edgard Blücher.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (2014). Levantamento Sistemático da Produção Agrícola LSPA. Recuperado de https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/economicas/agricultura-e-pecuaria/9201-levantamento-sistematico-da-producao-agricola.html?&t=downloads

Jafry, T., & O’Neill, D. H. (2000). The application of ergonomics in rural development: a review. Applied Ergonomics, 31(3), 263-268. https://doi.org/10.1016/s0003-6870(99)00051-4

Lemos, B., & Joia, L. A. (2012). Relevant factors for tacit knowledge transfer within organizations: an exploratory study. Gestão & Produção, 19(2), 233–246. https://doi.org/10.1590/S0104-530X2012000200001

Lourenzani, A. E. B. S., & Da Silva, A. L. (2004). Um estudo da competitividade dos diferentes canais de distribuição de hortaliças. Gestão & Produção, 11(3), 385–398. https://doi.org/10.1590/S0104-530X2004000300011

Manz, L. N., & Silver, K. (2013). Tomato worker ergonomics: REBA panel evaluation of job tasks using video. Undergraduate Honors Thesis Series. Paper 116. Recuperado de http://dc.etsu.edu/honors/116

Montedo, U. B. (2012). The process of constructing new competencies in the family agricultural production unit. Work, 41(Suppl.1), 76–80. https://doi.org/10.3233/WOR-2012-0138-76

Montedo, U. B., & Abrahão, J. I. (2015). The process of developing new competences: a case study at a family agricultural production unit. Production, 25(2), 336–343. https://doi.org/10.1590/0103-6513.145113

Montedo, U. B., & Sznelwar, L. I. (2008). Análise ergonômica do trabalho agrícola familiar na produção de leite. Production, 18(1), 142-154. https://doi.org/10.1590/S0103-65132008000100011

Myers, R. J. (1997). Injuries among farm workers in the United States, 1993. Cincinnati (OH): National Institute of Occupational Safety and Health (US). Recuperado em 12 de outubro de 2019, de https://www.cdc.gov/niosh/docs/97-115/pdfs/97-115.pdf?id=10.26616/NIOSHPUB97115

Ouellet, S., & Vézina, N. (2014). Work training and MSDs prevention: Contribution of ergonomics. International Journal of Industrial Ergonomics, 44(1), 24–31. https://doi.org/10.1016/j.ergon.2013.08.008

Polanyi, M. (1996). The Tacit Dimension. London: Routledge.

Ribeiro, I. A. V., Tereso, M. J. A., & Abrahão, R. F. (2009). Análise ergonômica do trabalho em unidades de beneficiamento de tomates de mesa: movimentação manual de cargas. Ciência Rural, 39(4), 1073–1079. https://doi.org/10.1590/S0103-84782009005000037

Rodrigues, L. R., Zambon, F. R. A., & Muraro, D. (2010). Classificação do tomate por atacadistas e produtores Curitiba. Horticultura Brasileira, 25(4), 521–526. https://doi.org/10.1590/S0102-05362007000400006

Santos, A. P. S., Yamaguchi, C. H., Vieira, A. C. P., & Watanabe, M. (2016). Agricultural diversification and management of tacit knowledge in rural properties Brazil. Espacios, 37(22). Recuperado em 20 de dezembro de 2019, de http://www.revistaespacios.com/a16v37n22/16372204.html

Santos, A. S., & Curado, F. F. (2012). Perspectivas para pesquisa agroecológica: diálogo de saberes. Aracaju: Embrapa Tabuleiros Costeiros. Recuperado em 10 de janeiro de 2020, de http://www.cpatc.embrapa.br/publicacoes_2012/doc_172.pdf

Silva, F. R. D. (2015). Saberes tácitos na colheita manual do tomate: estudo de caso a partir da perspectiva da ergonomia. (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, Sorocaba.

Silver, K., Hoffman, K., Loury, S., Fethke, N. B., Liebman, A., Manz, N., Manock, S., Andino, A., Bradfield, M., Morrissette, D., & Florence, J. (2014). A campus-community partnership for farmworkers' health: an intervention for tomato workers in Tennessee. Progress in Community Health Partnerships: Research, Education, and Action, 8(4), 501–510. https://doi.org/10.1353/cpr.2014.0056

Tabosa, F. J., Ferreira, R. T., & Castelar, L. I. (2014). Convergência de mercados intrarregionais: o caso do mercado atacadista brasileiro do tomate. Revista de Economia e Sociologia Rural, 52(1), 61–80. https://doi.org/10.1590/S0103-20032014000100004

Tessari, C. A. (2014). Trabalhadores temporários para o café: mecanização e núcleos coloniais em São Paulo, 1895-1911. Estudos Econômicos (São Paulo), 44(2), 409–434. https://doi.org/10.1590/S0101-41612014000200007

Tillmann, A. M. A. (1994). Organização do trabalho e saúde: estudo comparativo com operários rurais de uma empresa de pesquisa agropecuária (Dissertação de mestrado). Universidade de Brasília, Brasília.

Ulbricht, L. (2003). Fatores de risco associados à incidência de DORT entre ordenhadores em Santa Catarina (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Vasconcelos, R. C., Lima, F. de P. A., Camarotto, J. A., Abreu, A. C. M. da S., & Coutinho Filho, A. O. S. (2008). Aspectos de complexidade do trabalho de coletores de lixo domiciliar: a gestão da variabilidade do trabalho na rua. Gestão & Produção, 15(2), 407–419. https://doi.org/10.1590/S0104-530X2008000200015

Wisner, A. (1987). Por dentro do trabalho: ergonomia: métodos e técnicas. São Paulo: FTD.

Yin, R. K. (2015). Estudo de caso: planejamento e métodos (5a ed.). Porto Alegre: Bookman.

63bdb25da95395364655f8c6 abergo Articles
Links & Downloads

R. Ação Ergon.

Share this page
Page Sections